Rosa dos Ventos
"Deixe a Luz ser a sua bússola." – Mithrax
"Você devia guardar a arma", diz a Arcana, vendo seu companheiro Caçador entrar no escritório vazio. Um assovio longo e impressionado escapa dos lábios dele conforme o homem examina a sala.
"O comandante tá com tudo mesmo, hein?", comenta o Caçador, com a escopeta ainda encostada no ombro. Percebendo um movimento em uma das prateleiras no alto, ele se pergunta: "É um gato ali?"
A Arcana dá um empurrãozinho para que ele vá para o meio da sala, então abaixa a escopeta do ombro dele; o toque deixa, no cano da arma, uma marca que lembra geada. O olhar que ela direciona ao Caçador é paciente, mas cansado.
"Eu não me lembrava de ter uma reunião agendada para agora", entoa alguém do umbral. A Arcana e o Caçador se viram e se deparam com o Comandante Zavala, o Caçador escondendo a escopeta às costas enquanto o Fantasma decompila a arma. Ele exibe um sorriso torto e culpado para Zavala e espalma as mãos para a Arcana, como se perguntasse: "Arma? Que arma?"
"Comandante Zavala", começa a Arcana, fuzilando o colega com o olhar. "Eu sou…"
"Eu sei quem vocês são", interrompe Zavala, passando direto por eles. "Eu tenho uma chamada com o Consenso em dez minutos. Vocês têm oito deles."
"Ele conhece a gente!", sussurra o Caçador, recebendo uma cotovelada discreta da Arcana em resposta.
"Comandante. Em primeiro lugar, queremos agradecer pelos esforços de resgate em Europa. Queríamos falar dos planos de longo prazo a respeito do assentamento dos Eliksni na Cidade."
Zavala se senta à mesa com cansaço no olhar. "Não temos plano de longo prazo. Por ora."
"Vocês não pensaram em nada antes de botar todo mundo numa vala bombardeada?", soltou o Caçador. A expressão de Zavala tem um misto de surpresa e ofensa, mas ele só deixa sair uma gargalhada, que vai crescendo de uma maneira surpreendentemente jovial antes de se desfazer num suspiro.
"É o que fica parecendo, sim", admite Zavala. "É o território que o Consenso cedeu, por ora. Mas a ideia é transformar a área num anexo de aprendizado comunitário em que Eliksni e humanos possam dividir ideias, cultura e linguagem sem empecilhos."
"E eles morariam lá?", indaga a Arcana.
"Não", responde Zavala, com um balançar de cabeça. "Se tudo der certo, eles vão morar na Cidade, onde bem entenderem. Só vai demorar para fazermos obras no pedaço do Distrito de Botza que cedemos para eles e para garantir que o povo da Cidade os aceitará. A última coisa que queremos é violência gerada por confusão e ignorância."
A Arcana e o Caçador se entreolham antes de voltar a Zavala. "É… sinceramente, melhor do que esperávamos. Sem querer ofender sua capacidade de planejamento urbano, Comandante, é que…"
"O plano não é meu", retruca Zavala, gesticulando para a mulher que bisbilhota à porta.
"Ikora", cumprimenta a Arcana, com uma leve mesura respeitosa.
Tanto a Arcana quanto o Caçador parecem chocados com a aparição. Ikora exibe um sorriso modesto e se convida a entrar por inteiro.
"Quando fiquei sabendo que o antigo esquadrão de Mithrax veio à Cidade, fiquei surpresa de descobrir que veio parar aqui, e não lá embaixo com ele", comenta Ikora, embora não esteja de fato surpresa. "Já foram cumprimentá-lo?"
"Com tudo o que aconteceu em Europa, senhora, não achamos uma escolha prudente. Ele ainda… bem, tem emoções ainda frescas, e… com tudo o que anda acontecendo, foi difícil entrar em contato", admite a Arcana, com um olhar preocupado para o Caçador. Ikora os observa por um momento antes de acenar com a cabeça e se aproximar de Zavala.
"Problemas familiares dão trabalho", admite Ikora, pousando a mão no encosto da poltrona de Zavala. "Mesmo quando é uma família que não é de sangue. Mas eu acredito que vocês vão conseguir se resolver."
Ela se inclina e sussurra algo no ouvido dele; o comandante da Vanguarda responde com um olhar de aprovação enquanto abre as janelas dos terminais para a reunião prestes a começar.
"Enquanto isso, que tal vocês dois darem uma mão à Vanguarda?", indaga Ikora, erguendo uma sobrancelha. A Arcana e o Caçador se entreolham furtivamente, mas os dois não demoram em oferecer acenos silenciosos de afirmação. Ikora sorri, tendo antecipado a resposta, e abre os braços para guiar os dois para fora do escritório de Zavala.
"Que bom. Temos um batedor de longa distância operando fora da Cidade, um Caçador bem novo no ofício, e queríamos que vocês dois lhe fizessem companhia", explica Ikora, caminhando. Ela olha brevemente por sobre o ombro na direção de Zavala, que sorri, agradecido, em resposta.
"Quem é?", pergunta a Arcana.
"Bem… é complicado."